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Lupa

Sebastião Pereira - Seu Bidoro

Exímio violonista e de alegria contagiante, Sebastião Pereira, o Bidoro como era conhecido, encantava a população com seu violão e alegrava as reuniões de Pirenópolis. Amigo de muita gente, figura ímpar de carisma inesgotável, incentivou e ensinou muitos jovens nas artes da música.

Alegria contagiante e grande violonista

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Biografia extraída integralmente do blog Cidade de Pirenópolis de Adriano César Curado. Meus agradecimentos.

Sebastião Pereira (Pirenópolis, 14.1.1928 – 2.2.2008) foi um grande músico pirenopolino, membro da Banda Fênix, do Coro e Orquestra Nossa Senhora do Rosário, da Orquestra Sinfônica de Goiás e fiscal arrecadador estadual de Goiás.

Conhecido como Bidoro, era o sexto de 14 filhos (8 mulheres e 6 homens) de José Pereira e Auristela Dijanira Pereira. Desde pequeno se manifestou como criança prodígio, pois subia em mesa e cadeira para pegar escondido a viola que o pai tinha dependurada na parede, com cordas de tripa, para dedilhar e assim aprender a tocar sozinho.

Bidoro se casou com Wilmia Luzia de Pina (Mica), no dia 25.09.1954, num sábado. O casamento civil foi as 16h00 e o religioso uma hora mais tarde, com direito a banda de musica na festança. O casal teve 5 filhos, na seguinte ordem cronológica: Ana Selmia Pereira, Wilmia do Rozario Pereira de Carvalho, José Wilsom Pereira, Henrique Tadeu Pereira e Guilherme Pereira.

Sua mãe, Dijanira, tocava um pouco violão e, ao ver que o filho se interessava por música, ensinou para ele algumas notas. Daí para a frente, Bidoro pode ser considerado um autodidata, pois passou a dedilhar o braço do violão orientado unicamente pelo impecável ouvido. O desenvolvimento do seu dom artístico foi estupendo, e ele, curioso como era, começou a estudar sozinho a teoria musical. Seu pai, José Pereira, por ser comerciante, ia sempre a São Paulo comprar mercadorias para a loja e trazia partituras para o filho.

O gênio em seu interior era impulsivo e indomável, então Bidoro o libertou, deixou que a música fluísse naturalmente pela sua alma artística. E foi assim que, sem nenhuma orientação técnica, guiado apenas pela curiosidade e pelo talento, passou a tocar, além do violão, contrabaixo, cavaquinho, gaita e bandolim, tudo de ouvido, seguindo aquela velha intuição que consagrou Pirenópolis como "o berço da música goiana". Mais tarde, tocou rebecão por bastante tempo no coro da Igreja Matriz, nas novenas e missas solenes. Como membro da Banda de Música Fênix, tocava bombardino. Bidoro foi também membro da Orquestra Sinfônica de Goias, quando Braz Wilson Pompeu de Pina Filho era regente.

Quem teve o prazer de desfrutar de sua companhia engraçadíssima, sempre de bom humor e com um trocadilho na ponta da língua, não se esquece mais. Como inesquecível era também vê-lo "tocar" em uma folha de roseira, da qual tirava um som incrível, interpretando lindas canções.

Quando ainda jovem, Bidoro era bastante requisitado pelos rapazes pirenopolinos, que desejavam impressionar suas amadas com belas serenatas. Então ele interpretava com seus dedos ágeis, o cancioneiro popular em moda na época, sempre com malabarismo de ritornelo entre uma posição e outra. O sucesso foi tanto que ele passou a tocar também em festas particulares nas casas.

Certo dia, contratado para uma festa em casa de umas moças na Rua do Carmo, ele foi convidado para ir tocar. Mas como ficava sem graça, pois era só ele e o violão, seu pai, José Pereira, adaptou no braço do instrumento uma gaita, e Bidoro, sem sapato, colocou um chocalho no dedão do pé para fazer o acompanhamento. Dizem os antigos que foi um bailão animado, embora muito engraçado.

Em Pirenópolis, Bidoro se consagrou como um grande violonista, intérprete de inesquecíveis apresentações. Por esse motivo era contratado para tocar em casamentos e outras festas também em outras localidades, como Jaraguá, Goianésia, Caldas Novas, Anápolis e Goiânia. E foi esse sucesso que o levou a tocar para Juscelino kubitschek, quando era presidente da Republica e esteve em Pirenópolis, no princípio da década de 1960, ao lado de Ita e Alor de Siqueira, com quem faria uma longa parceria musical.

Ita e Alaor de Siqueira, após a morte de Wilson Pompeu de Pina, passaram a coordenar o tradicional teatro de revista chamado As Pastorinhas, que todo ano está inserido na programação da Festa do Divino, e Bidoro era membro efetivo da orquestra que sempre acompanhada as apresentações.

Foi contrabaixista do conjunto musical Clóvis Roberto, e também no conjunto Entre Parentes, do irmão Aleixo Pereira, grande músico ao acordeom. A convivência dos irmãos Bidoro e Aleixo era linda, eles se entendiam com um olhar quando tocavam juntos. Amanheciam o dia tocando e saboreando uma boa pinguinha. Às vezes eles discordavam nos tons, mas era muito engraçado, porque se acertavam logo. Nas reuniões da família Pereira, os dois eram a festa, Aleixo com suas piadas e Bidoro com caretas, criticando as moças feias que passavam. E vez por outra Bidoro dizia: "preciso molhar a garganta", e dava uma talagada na pinga ou no uísque, bebidas que muito apreciava, mas sem exageros.

Bidoro e Aleixo marcaram gerações pirenopolinas ao interpretar antigas valsas, boleros e tangos consagrados. Cantavam em dueto madrugadas adentro, invertiam as vozes, brincavam com os instrumentos. Pirenópolis tem talento de sobra!

Quando Bidoro ia a alguma festa que não fora contratado ou convidado a tocar, se por ali havia um conjunto ou alguém tocando, ele dava um jeitinho de cantar ou de fazer acompanhamento no violão alheio, tamanha sua paixão pela musica. Tinha um ouvido privilegiado e notava na menor desafinação, então torcia o nariz e podia-se ler em seu olhos a vontade de intervir, mas como era extremamente educado, ficava em silêncio. Esse bom ouvido lhe dava gabarito inclusive para afinar piano.

Para finalizar, lembro de um causo verídico que se tornou folclore em Pirenópolis. Certa vez, quando as filhas de Bidoro eram solteiras, um grupo de rapazes resolveu homenageá-las com uma serenata. Lá pelas tantas, eis que aparece o dono da casa, vestido de pijama e com uma cara enrugada. Os rapazes, apavorados, pensaram em correr, mas Bidoro os tranquilizou: "Calma, gente. Está tudo muito bom, vocês cantam bem, mas dá aqui o violão que vou afiná-lo". Então tomou o instrumento dos moços, afinou rapidamente, devolveu e completou: "Pronto, podem continuar". E voltou para a cama.

Bidoro era cardíaco, usava marcapasso no coração, e disso morreu, aos 80 anos bem vividos, no dia 2 de fevereiro de 2008. Deixou muita saudade em Pirenópolis e é merecedor de figurar entre os biografados neste blog (Cidade de Pirenópolis).

Observações:

- Este texto é baseado na biografia que Ana Selmia de Pina, filha de Bidoro, escreveu e gentilmente me enviou. A ela, minha grande amiga, meus agradecimentos.

- As fotos aqui publicadas foram gentilmente cedidas por dona Mica, viúva do Bidoro, e pertencem ao acervo da família Pina Pereira.

Fonte: Blog Cidade de Pirenópolis de Adriano César Curado

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