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Lupa

A geomorfologia de Pirenópolis

Pirenópolis está inserida no Planalto Central Brasileiro, cuja formação é datada do período pré-cambriano (> 1 bilhão de anos), sob embasamentos sedimentares arenosos muito antigos e intemperizados. Todo o município é cortado de norte a sul por uma serra, que é uma quebra de relevo provocada por deslocamentos da crosta e que faz divisas entre duas grandes bacias hidrográficas: a leste e sudeste a Bacia do Paraná e ao norte e noroeste a Bacia do Tocantins.

Sedimentos de fundo do mar

https://science.howstuffworks.com/environmental/earth/geology/gondwana.htm [3]
https://science.howstuffworks.com/environmental/earth/geology/gondwana.htm [3]

A teoria mais aceita entre os geólogos é que todo o embasamento rochoso mais antigo do continente sul-americano foi formado por sedimentos erodidos do supercontinente Rodínea na era mesoproterozóico[1], há mais de 1 bilhão de anos. Tais sedimentos foram depositados no fundo do mar e deram origem a outro supercontinente, a Pangea, e consequentemente ao continente Gondwana. Neste momento houve a fusão de grandes blocos da crosta (crátons), deformando e solidificando a grande profundidade rochas sedimentares (metamorfização). Rochas estas que hoje se apresentam muito alteradas na superfície.

Mais tarde, há cerca de 250 milhões de anos[2], Gondwana se fragmentou dando origem a placa sul-americana e aos continentes da América do Sul, África, Antártica, Índia, Arábia e Oceania.

Gondwana
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Texas_from_Jurassic_to_Modern_Day.gif

Por aqueles tempos, a região dos Pireneus era uma praia de extensões quilométricas, tanto em largura como em comprimento, feita de enormes dunas de areias quartzíticas brancas e cristalinas. A partir daí começou o processo de deriva das placas, soerguimentos, dobramentos, aplainamentos e arrasamentos geológicos que deram origem ao Escudo Cristalino e ao Planalto Central Brasileiro.

Com o movimento das placas tectônicas, a América do Sul começou a se afastar da África e a placa Sul-Americana foi de encontro com a Placa de Nazca gerando enormes ondas de choque que deformaram e metamorfosearam as então rochas sedimentares. Enormes fraturas quebraram o relevo formando serras, bordas, vales e rachaduras na crosta terrestre, por onde vazou magma das profundezas e formaram diques de rochas magmáticas, cortando vastas áreas de norte a sul. Mares se formaram entre os continentes e invadiram áreas até então secas, dividindo a paisagem em bacias de depressão e arcos de soerguimentos, gerados por pressões orogênicas horizontais tão fortes que as rochas sedimentadas, assentadas em camadas, dobravam-se como sanfonas e alterava-se sua estrutura física, formando cristais duríssimos.

Epicentro de movimentos tectônicos

A Serra dos Pireneus é o maior e mais importante monumento geológico da região. Tanto que dela se extraiu o nome da cidade de Pirenópolis e seu conjunto de morros e picos se destacam na paisagem plana do Planalto Central brasileiro.

A sua estrutura geológica é composta por serras com escarpas, vales e um conjunto de dobramentos que se destaca como os pontos mais altos de todo o complexo.

Tais dobramentos tem origem na movimentação de três grandes crátons, quando da formação do supercontinente Gondwana, há coisa de 1 milhão de anos. Esses três blocos da crosta terrestre são conhecidos hoje como o cráton São Francisco (Brasília), Amazônico (Araguaia) e o Paranapanema (Paraguai).[4]

O Pico dos Pireneus e seu entorno são compostos por rochas formadas neste evento. A força de choque dos três crátons foi tão grande que enormes volumes de rochas se deformaram e se dobraram. O local é justamente o epicentro de encontro destas três grandes forças que fizeram tais blocos se chocarem, por isso é possível ali encontrar dobramentos dos mais variados tipos: pequenos como bainhas do tamanho de cabanas, deformações em "S" e até enormes morros de flancos de dobras verticalizados.

Por terem as rochas sofridas enormes pressões nas partes internas dos eixos das dobras, formaram-se cristais e rochas cristalinas muito duras, que foram capazes de resistir ao tempo e a deterioração.

Mas somente a partir do quaternário (há 2 milhões de anos) que o relevo da região começou a ter a forma atual. Forma esta bastante influenciada pelas falhas, fraturas, dobras e movimentações tectônicas que ocorreram bem antes, há centenas de milhões de anos.

Divisor de águas continentais

Conjunto de rochas quartzíticas com cerrado rupestre no Parque dos Pireneus
Conjunto de rochas quartzíticas com cerrado rupestre no Parque dos Pireneus

O encontro dos crátons também ocasionou uma quebra de relevo e determinou a divisão das águas das bacias continentais. E como o local foi o epicentro de forças de deslocamento da crosta, o divisor aí faz uma curva acentuada seguindo para norte e para oeste. Para o norte o divisor de águas separa bacias do Paraná e São Francisco e para oeste divide as bacias do Araguaia-Tocantins e Paraná.

Portanto, a Serra dos Pireneus faz parte do grande divisor de águas que o Planalto Central protagoniza e devido a este choque, que também provocou o cisalhamento da faixa de Brasilia que a dividiu em segmentos setentrionais e meridionais[4], podemos observar um coisa curiosa: do alto do Pico dos Pireneus, olhando ao norte vemos as nascentes do Rio Corumbá, tributário da Bacia do Paraná, que corre para o sul; e olhando para o sul podemos ver as nascentes do rio das Almas, tributário da Bacia do Tocantins, que corre para o norte. A sensação é que a terra ali se contorceu.

Também observa-se que do alto deste pico para o lado leste avista-se uma paisagem de planalto de altitude elevada, que é o altiplano de Brasília; Já para o lado oeste avista-se uma serra, não muito extensa, e ao fundo um plano mais baixo, um vale muito largo e plano conhecido na região por Vale de São Patrício. Serra de encostas são justamente relevos acidentados que dividem uma porção mais alta de uma mais baixa. Regiões como estas são sempre muito abundante em nascentes pois o plano mais alto absorve as águas que abastecem mananciais profundos que brotam nestas serras.

Ouro, pedra e água

A Cachoeira do Lázaro corre sobre rochas deformadas e inclinadas formando cachoeiras em diagonais
A Cachoeira do Lázaro corre sobre rochas deformadas e inclinadas formando cachoeiras em diagonais

Pirenópolis ganhou seu nome em função da serra que leva o nome de Pireneus (o nome original da cidade era Meya Ponte), devido a importância que este relevo e toda a sua geomorfologia representam.

O ouro, que atraiu os primeiros exploradores que fundaram a cidade, se acumulou no aluvião de fundo de vale, aos pés da serra. Foram milhões de anos de degradação de rochas, mares, chuvas, pedras rolando e o ouro se desprendendo. Como é um metal pesado, o ouro rodopiou nas enxurradas e o mais próximo possível se depositou no fundo das bacias e depressões. E aí foi ficando por milhares e milhares de anos até que o homem o garimpou.

A Pedra de Pirenópolis é também conhecida comercialmente como Pedra Goiás ou Pedra Goiana e é usada em ornamentação, calçamentos e pisos, principalmente exteriores e em torno de piscinas. Por ser um quartzito, é uma pedra fria, que não queima os pés; é abrasiva, não escorrega nem molhada; e muito durável (o quartzo é mais duro que o aço). Na geologia é chamada de quartzito micáceo, por conter muito quartzo e mica. Esta rocha é outra riqueza mineral que esta serra fornece. Não só a pedra, mas as areias e britas proveniente da moagem das pedras é também um bom material para a construção civil.

Por fim, a água. Não fosse essa história toda da formação geológica da serra, onde Pirenópolis se aninha, não teríamos hoje tais atratividades turísticas. Região de nascentes, cerrado preservado (devido ao baixo valor agronômico da terra), com muitos morros, mirantes, rios e cachoeiras de águas cristalinas, a Serra dos Pireneus, com sua belíssima paisagem, é hoje destino de pessoas que buscam lazer em contato com a natureza.

Daí podemos dizer que Pirenópolis vive das riquezas minerais geradas por este conjunto geológico. Pois hoje, é a água de suas cachoeiras, como um recurso mineral valiosíssimo, que dá valor ao destino turístico que sustenta a cidade, onde outrora foram o ouro e a pedra. Ainda somos todos, de certo modo, mineradores.

Fontes e referências

  • [1] Glossário Geológico CPRM - Rodínea
  • [2] Glossário Geológico CPRM - Pangea
  • [3] HowStuffWorks - Godwana
  • [4] Serviço Geológico Brasileiro (CPRM) - Geoparque Pireneus
  • Fitogeografia do Brasil - Orlando Graffi
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