Menu
Menu
Lupa

Artigos e notícias

Os impactos ambientais nas trilhas de Pirenópolis. Como minimizá-los

Quando se trata de conservação da natureza, não existe impacto zero. Não tem como alguém ingressar em um ambiente natural, uma trilha de caminhada ecológica, por exemplo, e não causar nenhum impacto na natureza.

Os impactos ambientais nas trilhas de Pirenópolis. Como minimizá-los
Alguns lugares são muito sensíveis ao pisoteio, como campos arenosos.

Mas, para quem se preocupa com o meio ambiente, gosta de passear no mato, subir picos e tomar banhos de cachoeiras, e quer fazer de sua atividade uma atividade responsável ambientalmente com mínimo impacto, um pouco de conhecimento e atenção é imprescindível. As recomendações são as seguintes, a maioria são óbvias, como:

  • Não deixe nenhum tipo de resíduo na natureza;
  • Não leve cachorros, pets, cavalos ou outro animal;
  • Não coletar plantas, cortar ou quebrar galhos;
  • Não mate e nem aprisione insetos ou qualquer tipo de animal;
  • Não faça fogueiras;
  • Não faça barulho excessivo, gritos ou algazarras;
  • Não saia da trilha;
  • Não use perfumes, desodorantes, repelentes, bloqueadores ou qualquer produto que exale odores estranhos ao ambiente natural.
  • Não pise em raízes, nem suba em árvores e nem se escore em arbustos finos e frágeis;
  • Procure ambientes com infraestrutura ou que tenham baixa ocupação e visitação;

Existe uma frase famosa que diz: Ao visitar um local natural, não deixe senão pegadas, não tire senão fotografias e não leve senão lembranças.

Destes itens expostos destaco algumas recomendações que não são tão óbvias, são polêmicas e muitas pessoas, mesmo as de boa vontade, as ignoram:

Resíduos, nem se for enterrado ou orgânico. Se a gente tem o propósito de mínima interferência, devemos levar em consideração que os orgânicos, assim como a urina e as fezes, contém substâncias químicas, vermes e microrganismos estranhos, que podem causar algum tipo de reação na fauna, e que provavelmente irá se alimentar destes restos. Mas aí tem aquela indagação: E se me der dor de barriga ou vontade de urinar? A trilha é longa, é o dia inteiro, não dá para segurar. Pois bem, a intenção é aliviar nossa pegada ecológica, então no caso de fezes, cave um buraco, de pelo menos uns 10 cm de profundidade e enterre as fezes junto com o papel ou com o que foi usado para se limpar. Se for urina, não urine sobre as plantas e nem no tronco de uma árvore. Urine de preferência, sobre uma matéria orgânica morta, como um tronco ou galho podre, um amontoado de folha, ou urine sobre o solo nu ou sobre uma pedra.

Animais, como cães e cavalos, também defecam, urinam e carregam parasitas, como pulgas e carrapatos. Os cavalos ainda carregam sementes de gramíneas exóticas em suas fezes.

Substâncias químicas, como perfumes, protetores solar, bloqueadores, bronzeadores, cremes e repelentes poluem as águas e irritam determinados tipos de insetos. Marimbondos, por exemplo, são animais territorialistas e ao invés de repeli-los os cheiros fortes os irritam. Repelentes são feitos para muriçocas e borrachudos não para marimbondos. Em muitos casos o efeito pode ser contrário. Nunca vá para o mato exalando cheiros fortes e estranhos. Isso pode ser um sinal de ameaça e não uma proteção. Quanto a poluição das águas, o caso é sério, principalmente quando o banho é em córregos e poços de pequena vazão. Aqueles poços de água cristalina próximos às nascentes. O óleo destas substâncias formam uma nata que mata a microbiologia da água, gruda nas pedras e na vegetação lindeira das margens do curso d'água. Essa microbiologia são aquelas baratinhas d'água e minúsculos crustáceos e aracnídeos que são a base da cadeia alimentar. A vegetação lindeira é refúgio de fauna, dos pequenos peixes e filhotes. Sem ela toda a cadeia alimentar daquele ambiente é prejudicada.

Não pise em raízes. Muita gente não percebe mas o maior estrago que fazemos em uma trilha ecológica é o pisoteio. Raízes não nascem sobre a terra (salvo raras exceções). O pisoteio mata as pequenas plantas que seguram o solo e sem essa cobertura a chuva e o vento levam as partículas de terra, expondo as raízes. Ao deparar na trilha com raízes expostas é porque a trilha está impactada e degradada por conta do pisoteio. A raiz é viva e o pisoteio excessivo mata aquela raiz e, consequentemente, a planta perde a sustentação e tomba com a chuva e o vento. Isso é muito comum em beira de rios e poços de banho dentro de matas de galeria onde a visitação é intensa. Não devemos nunca pisar em raízes, principalmente aquelas que balançam e são pequenas. "Ah! Mas não tem como, neste lugar só tem as raízes para pisar". Então procure outro lugar para se divertir ou uma raiz forte, grossa, bem apoiada para pisar.

Uma característica que é bom de frisar em Pirenópolis, devido a sua geografia serrana de solos muito antigos, é que os terrenos junto aos córregos e cachoeiras não são profundos. Isto é, não existem latossolos junto a maioria das trilhas e cachoeiras que são usadas pelo turismo. O terreno rochoso faz com que as árvores não consigam desenvolver com facilidade uma raiz pivotante, central e profunda. Então, as árvores e arbustos que nascem sobre substratos rochosos são obrigadas a espalharem muitas raízes superficiais em meio as frestas da rochas mais intemperizadas. Nestes ambiente o pisoteio é ainda mais prejudicial.

"Poxa! Mas você está sendo muito radical. A natureza se adapta e se regenera". Isso é certo, mas tudo tem seu tempo. Se a interferência humana for maior que a capacidade de regeneração natural o resultado é a degradação ambiental. Por isso que no turismo responsável, devemos evitar usar trilhas degradadas e atrativos que não zelem pelo meio ambiente, permitindo o pisoteio em raízes e o uso de substâncias químicas que poluem as águas. Devemos prestigiar atrativos que possuam infraestrutura, como calçadas e decks, e recomendações e regras que visem a melhor proteção do meio ambiente.

Matéria publicada em 14/05/2021 às 11:41:20.

Voltar para notícias

elemento decorativo