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Cerrado é festa de cores, luzes e formas

Uma coisa me chamou atenção entre as pessoas que vivem no cerrado: a paixão. O cerrado é apaixonante. É fácil ficar encantado. Intercaladas entre dois períodos marcantes, a estação da seca e a estação das chuvas, as paisagens cerratenses transfiguram-se como expressões vivas. Hora de um verde intenso em fundo branco, hora de um mosaico colorido em fundo azul profundo.

Cerrado é festa de cores, luzes e formas
Ipê amarelo - Caraíva

É este último que agora presenciamos neste mês de agosto. Tempo seco e ensolarado. Verãozão como dita o dito popular. Matizes de verdes, amarelos, laranjas e vermelhos salpicam sobre as matas como miríades luminosas de grandes quebra-cabeças, armados numa mesa dum capim amarelo-ressequido, que mostra, isoladas, destacadas como pingentes num largo decote de um seio volumoso, frondosas árvores nuas carregadas de flores, como noivas despidas adornadas em pedras preciosas, prontas para a volúpia com o vento e insetos. Não há como não ficar encantado.

A cada mês é um evento. O cerrado, de uma forma geral, tem um ciclo biológico regido pelo clima tropical de duas estações: úmida e seca. No período da seca o cerrado floresce. Começa em abril pelos campos, pela vegetação rasteira, mais alta, que retém menos umidade: palipalantus, mimosas, velózias... Depois é a vez dos arbustos do cerrado típico: paus-terras, paus-santos, quaresmeiras... Já no segundo semestre, as árvores: ipês, pequis, cagaiteiras... Ocorre também durante a seca um processo de higienização. Espécies velhas e fracas sucumbem, fungos e bactérias desaparecem. A herbivoria emagrece e a carnivoria aproveita. Um pouco antes de findar a seca os pássaros escolhem seus pares e preparam os ninhos. Mal chegam as primeiras umidades, ninhos prontos e milhares de insetos, mariposas, revoadas de siriri e tanajuras, aranhas que saem de seus esconderijos de seca, servem de farta refeição proteica para a formação dos ovos. É época de acasalamento.

Das flores do cerrado, vicejantes na seca, brotam frutos. Maduros à aproximação das chuvas. Cajús, cagaitas, pequis, mangabas, curriolas... Todas largam às bocas famintas de austeros meses de carestia suas sementes para serem dispersas à chuva bendita que chega aos meses de outubro. Santa sapiência. Verdadeiro milagre da mãe natureza que até um homem cego é capaz de ver. Despenca o céu ao décimo segundo mês. É hora de aprofundar raízes. Terra fofa e molhada. É a festa dos fungos e bactérias. Insetos em profusão devorando a putrefacta matéria orgânica. E o verde viceja, produzindo matéria, produzindo raízes, produzindo filhotes para longa seca que já aí vem se avizinhando. E assim tudo recomeça.

Conheça mais um pouco sobre o Cerrado

Matéria publicada em 13/08/2014 às 23:59:48.

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